Nos últimos anos, o uso de anabolizantes saiu dos bastidores das academias para as conversas do dia a dia. Perfis de influenciadores fitness, vídeos de “transformação corporal” em tempo recorde e uma pressão estética cada vez mais intensa colocaram os esteroides anabolizantes no centro das atenções masculinas. Mas afinal, o que são esses compostos? Por que tantos homens estão recorrendo a eles? E até onde isso é realmente seguro? Para entendermos mais sobre o assunto, pedimos orientação da médica esportiva Drª Simony Morais.
O que são anabolizantes?
Anabolizantes são substâncias sintéticas derivadas da testosterona, o principal hormônio sexual masculino. Elas têm como objetivo principal promover o crescimento muscular (hipertrofia) e aumentar a força física. Seu uso médico é indicado para casos específicos, como transtornos hormonais, sarcopenia em idosos, caquexia (perda extrema de massa muscular) em doenças crônicas e retardo do crescimento em adolescentes com deficiência hormonal. Fora desses contextos, o uso é considerado não terapêutico e potencialmente perigoso.
Quais os mais usados entre os homens?
Entre os esteroides mais comuns entre praticantes de academia estão:
- Durateston (mistura de quatro tipos de testosterona)
- Deposteron (cipionato de testosterona)
- Oxandrolona – popular por “definir” músculos com menos retenção hídrica
- Stanozolol (Winstrol) – favorece a estética, mas é altamente tóxico ao fígado
- Deca-Durabolin (Decanoato de Nandrolona) – usado por quem busca massa magra
- Trembolona – extremamente potente, mas com altíssimo risco de colaterais
Muitos ainda associam o uso dessas substâncias à Terapia de Reposição de Testosterona (TRT), que deve ser feita exclusivamente sob prescrição médica e só quando há comprovada deficiência hormonal.
Por que tanta gente está usando?
O apelo é forte: ganhos rápidos, músculos definidos, autoestima elevada. Soma-se a isso o culto ao corpo perfeito nas redes sociais, a pressão estética masculina, o barateamento do acesso aos anabolizantes (inclusive por vias ilegais) e a falsa sensação de segurança promovida por resultados rápidos e pouco discutidos efeitos colaterais.
Pequenas quantidades: há avanços?
Estudos recentes apontam que, quando usados em doses baixas e com supervisão médica rigorosa, alguns anabolizantes podem melhorar a composição corporal, aumentar a densidade óssea e a força muscular em homens com baixos níveis hormonais. No entanto, isso não é sinônimo de uso recreativo. O que se observa é que, mesmo em microdoses, a resposta ao uso varia de indivíduo para indivíduo, e os efeitos colaterais podem ocorrer mesmo com controle.
E o uso abusivo? O que pode causar?
O uso excessivo ou prolongado, especialmente sem acompanhamento médico, sobrecarrega o fígado, rins e sistema cardiovascular. Entre os riscos mais comuns:
- Ginecomastia (crescimento das mamas em homens)
- Queda de cabelo e acne severa
- Impotência e infertilidade
- Alterações de humor, agressividade e depressão
- Atrofia dos testículos
- Maior risco de infarto e AVC
Além disso, o uso indiscriminado pode desregular permanentemente o eixo hormonal, fazendo com que o corpo pare de produzir testosterona naturalmente, exigindo reposição pelo resto da vida.
Acompanhamento médico é indispensável
Seja em casos de reposição hormonal, seja em protocolos para doenças específicas, o uso de qualquer substância anabolizante exige acompanhamento com endocrinologista ou médico do esporte. Exames periódicos, ajuste de dosagem e monitoramento dos efeitos colaterais são fundamentais para minimizar riscos.
A obsessão por resultados rápidos está levando muitos homens a abrir mão da saúde em troca de músculos. É essencial reforçar que corpo saudável é resultado de tempo, consistência, boa alimentação e treino adequado. Anabolizantes não são vilões, mas seu uso deve ser criterioso, indicado e acompanhado por profissionais da saúde. Fora disso, os riscos ultrapassam – e muito – os benefícios.