Ter nas mãos o futuro, podendo dominar o presente. Enxergar além e poder se fazer operante no aqui e agora. É o desejo de todo homem, de todo estudioso, de todo cientista e de todo ramo econômico-industrial. Temos anseio por entender o que nos espera pela frente.
Um mês, dois anos ou dez anos? O que será de nós em um futuro próximo ou num período remoto?
Santos Dumont, Bill Gates, Coco Chanel ou Saint Laurent. Precursores, inovadores e além do seu tempo. Mas como? Como prever o futuro? Como estar aquém do seu tempo? Como poder ter uma visão além do aqui e agora?
Difícil estar além. Mas como pode a moda (que é o que nos interessa aqui) antever tendências, desvendar signos e reconhecer novos ditames, comportamentos e pensamentos?
A velocidade com que as coisas têm acontecido é assustadora. Estilistas em surto, mentes criativas demitidas e rotatividade de roleta russa. O panorama da moda já não vai tão bem. Já não se tem mais o que inventar. Contar a história já contada perdeu a graça e o valor já é não é mais o mesmo.
Dinheiro é tudo, óbvio. Quem gasta mais, pesquisa mais e numa espécie de consulta na bola de cristal ou nos baralhos do tarô antevê o que será (pode ser ou não) realidade daqui a alguns anos. São as famosas agências de tendências que trabalham como videntes por aí.
O estudo vai muito além do que imaginamos. Cores, estampas, padronagens e peças. Isso não é nada perto do que se é capaz de prever. São novas formas de pensar, agir e se portar que mudam toda uma cadeia de produção-consumo.
Essas agências possuem o feeling certo, fazendo curadorias, analisando pessoas alfa que são precursoras e estão além nos gostos e preferências, que se antecipam em relação ao público em geral. São indivíduos disruptivos e que de certa forma estão à frente nas referências de moda, como se fossem um farol dando sinais de que aquilo que eles adotam irá servir de inspiração. Com o olhar dessas pessoas e de outros setores, as agências traduzem informações de forma didática para quem precisa delas poder criar novas coleções, por exemplo.
As marcas compram essas informações e transformam em coleções, tendências e peças. Lembrando que a moda foi, é e sempre será o espelho da sociedade, ou seja, o que prevalece são os anseios da sociedade, por isso, abrir a mente e compreender o meio em que se vive pode ser a chave do sucesso para alguns profissionais, como cool-hunters.
Em contrapartida, podemos prever também um futuro obscuro. Todas essas inovações tecnológicas, de dados e informações fazem parte de um cenário contrastante. Sim, a indústria da moda tem deixado países como Camboja, China e Bangladesh em direção à Etiópia, o novo polo industrial têxtil do Globo.
Marcas como H&M, Guess e Calvin Klein já instalaram seus polos industriais por lá, onde pagam abaixo do salário mínimo local e onde são inúmeros os casos de maus-tratos. Não precisamos repetidamente soltar o coro por aqui e falar tudo que de ruim a indústria da moda cravou na história. Sangue, sujeira, degradação, exploração e falta de humanidade. Como pode passado, presente e futuro caminharem tão juntos?
Os líderes do governo etíope não podem fechar os olhos para tudo que já ocorreu no sudeste asiático. A história está ai para ser contada e não vivida. Os tempos são e devem ser outros. Temos que escrever novos passos, diferentes dos já vividos e para isso não podemos compactuar que à custa de seres humanos, a indústria da moda continue se enriquecendo.
Vivemos em um duelo em futuro e passado, criado pelas mesmas marcas que constroem o futuro e insistem em repetir o passado. É tudo muito lindo. Cores vivas, peças novas, a mais alta tecnologia. Por outro lado, tudo muito podre e escroto, poder imaginar que milhares de pessoas custeiam o bel prazer de poucos, sem ter as mínimas condições de higiene, saúde e alimentação, ou seja, DIGNIDADE HUMANA.
A TROCO DE QUÊ CAMINHAMOS EM DIREÇÃO AO FUTURO?
Crédito das fotos: Eva Al Desnudo (Highsnobiety)