O fim do movimento hipster

Hipster

O The Guardian anunciou: o movimento hipster está chegando ao fim. A Folha de São Paulo confirmou (através de uma abordagem rasa, irônica e descontextualizada) o que a gente já esperava. A American Apparel (principal porta-voz do estilo) está em crise, além de outras lojas e endereços frequentados pelos famigerados hipsters, fechando suas portas. Uma nova estética está tomando conta das ruas e as passarelas das semanas de moda: o normcore, que está, pouco a pouco, substituindo as camisetas com estampas ousadas, os óculos de armação retrô e os sapatos de brechó por moletons, jeans de recorte reto e tênis esportivo.

Banda paulistana "O Terno", que resgata rock 60's e une à estética retrô.
Banda paulistana “O Terno”, que resgata rock 60’s e une à estética retrô.

Afinal de contas, o movimento hipster está mesmo chegando ao fim? Aliás, hipster é uma movimento ou um estilo? E se está acabando, quais são os motivos que estão levando a sua decadência? Dê uma olhada nesse post, entenda a história e pare falar besteira por aí.

 De onde veio essa história de “hipster”?

Ao contrário do que muita gente pensa, hipster não é um movimento que começou nos anos 2000. Muito antes disso, lá nos anos 1940, já se ouvia falar deles. “Hip” era o apelido dado aos jovens da pós era do Jazz que gostavam de seguir tendências e se vestiam de maneira “peculiar”. O sufixo “ster” foi acrescentado ao termo e, assim, surgiu o hipster. Quem quiser saber mais, vale dar um google em Thelonious Monk & Dizzy Gillespie, dois nomes importantes do Jazz e para o contexto da época.

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O movimento, no entanto, pouco se parece com os barbudos de óculos retrô dos dias atuais. Ao contrário, essa geração de hipsters que se originou nos anos 40 era influenciada pela geração beat, que surgiu do pós Segunda-Guerra (os pais dos hippies). Lembra de On The Road? Jack Kerouac? Pois bem, foi essa galera que influenciou os hippies nos anos 70. Eles prezavam pela liberdade de escolha, aquela filosofia de ‘viver intensamente o hoje” e, assim, foram considerados os primeiros ~alternativos~ que a história já viu.

Essa ‘safra’ de hipsters não alavancou. Pelo contrário, o movimento se perdeu com os anos, tomou outros caminhos e foi ressurgir só mesmo no início dos anos 2000, para dar nome a esse movimento hoje, massificado. No início da década passada, era um grupo de jovens entre 18 e 30 anos de classe média que ficaram conhecidos pelo modo de se vestir, gosto pelo passado e ânsia por novidades. Tinham um gosto forte por moda, cinema, música e artes no geral e eram, sobretudo, lançadores de tendências para essas áreas.

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O hipster atual se apropriou de todos os outros estilos e movimentos que já existiram na sociedade: o grunge, hip hop, o hippie, o punk. Todos eles foram incorporados e colocados no contexto atual. Eles unem elementos dos mais variados setores da sociedade numa mistura que, por muitas vezes, é ser julgada como falta de identidade e vazia (justamente por se valerem de outras tribos). Por ser a primeira tribo urbana a surgir sob os olhares da mídia publicitára (que logo transformou a filosofia hipster em desejo de consumo), muita gente passou a olhar torto pra essa galera. Mas a história não termina aí. Solta o play e termine o texto!

mgmt15“Get jobs in offices and wake up for the morning commute? / Forget about our mothers and our friends / We’re fated to pretend” Time to Pretend, MGMT

Os hipsters foram abraçados pela geração Y, que usa de seu próprio capital para consumo. São donos dos próprios negócios, sabem fazer de seu gosto, uma profissão, trabalham de casa, são donos de blogs (opa!) e revistas virtuais mas, sobretudo, são experimentadores. Por isso, são lançadores de tendências e famintos por novidades. Não se contentam fácil: gostam de novas bandas, novos artistas, séries que ninguém assistiu e filmes de diretores desconhecidos. Valorizam a estética old school e isso é evidente no estilo: gostam de garimpar peças de roupas em brechós ou que parecem ter saído de outras épocas. E mais: sabem usar da moda para se expressar, pois misturam elementos retrô com peças urbanas e atuais.

Os hipster acreditam que não existe solução para os problemas do mundo e, sobretudo, deles próprios. Isso se traduz numa atitude blasê e indiferente pelos mais variados assuntos da sociedade. É só pegar as letras da cantora Lana Del Rey e fazer uma rápida análise sobre o que se tratam. Time to Pretend (tempo de fungir) do MGMT é outra letra que traduz a maneira que os hipsters pensam sobre a vida, trabalho e amor. É, sobretudo, a primeira tribo que se conecta através da internet e utiliza dela todas as horas do dia. Isso fez com que esse estilo e atitudes se propagassem muito mais rápido, tornando-se uma coisa só, seja em Nova York, Londres ou até mesmo no Brasil.

Tribos urbanas: do underground ao mainstream (quando a contracultura predomina)

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Toda tribo urbana surge de uma necessidade de negar algum estilo, movimento ou filosofia predominante anteriormente. Ela começa marginalizada, às beras da sociedade midiática. Geralmente são vistas com olhos tortos no momento em que começa a influenciar a sociedade e até se tornarem um estilo predominante. Durante os anos 1970, com os punks, foi assim: surgiram marginalmente em Londres, e se vestiam de maneira a chocar a sociedade. Tinham ideais que iam contra a sociedade conservadora da época. A loja Sex, de Vivienne Westwood, por exemplo, se valia de camisetas com estampas que traziam temas polêmicos como o nazismo e o homossexualismo, fazendo muitos pedestres atravessarem a rua para não se chocar com as roupas da vitrine. O punk, assim como todos os outros movimentos, teve como fundo um estilo musical próprio que, quando os empresários descobriram que poderia se tornar vendável, reverteram a história e passarem a produzir as bandas. Resultado: Vivienne Westwood é umas principais estilistas britânicas de todos os tempos e seu marido, Malcolm McLaren, um dos produtores musicais que mais fez história no rock. Assim, o movimento punk entrou em decadência, quando ele começou a cair em gosto popular e foi massificado pela sociedade. O mesmo ciclo aconteceu com as bandas de garagem de Seattle que saíram do underground e estamparam capas de revista e comportamento, confirmando a estética oficial dos anos 90, que ingluenciou a moda, o cinema, a música e o modo de pensar: o Grunge (mas aí é história demais pra contar!).

A parada ficou séria quando a VOGUE Itália resolveu dedicar um editorial inteirinho sobre o movimento (ou, nesse caso, estilo) Grunge, em 1992, com Naomi Campbell e Kristen McMenamy. Mostrando como perfeitamente como uma tribo marginalizada tem o poder de influenciar toda a sociedade (seja na moda ou comportamento).
A parada ficou séria quando a VOGUE Itália resolveu dedicar um editorial inteirinho sobre o movimento (ou, nesse caso, estilo) Grunge, em 1992, com Naomi Campbell e Kristen McMenamy. Mostrando como perfeitamente como uma tribo marginalizada tem o poder de influenciar toda a sociedade (seja na moda ou comportamento).

 

As tribos urbanas não surgem à toa: geralmente são contraculturas que, quando chegam ao mainstream, completam um ciclo, e dão lugar a outras contraculturas (que geralmente vão negar a anterior, e assim por diante). Por isso muitos insistem em dizer que a “moda” hipster está decaindo. Na verdade, ela deixou de ser de um grupo de jovens seleto e passou a influenciar a sociedade no geral. Sejamos sinceros: quem aí não tem uma camiseta podrinha de banda, um objeto de decoração retrô ou tomou gosto por aquela banda que veio no Lollapalooza Brasil, mas que ninguém conhecia? Tem também as inúmeras armações de óculos retrô que todo mundo adotou (até minha mãe!), os filtros vintage do Instagram e tantas outras coisas que, hoje em dia, é usado pelas pessoas sem nem mesmo terem consciência. É isso, mermão! Achou que era só no vizinho? HÁ!

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O fim do ciclo: O que vem depois?

Se a moda hipster se valia de roupas bem pensadas, barbas e bigodes impecáveis, camisas com botões simetricamente abotoados, estampas combinadas, sapatos retrô, chapéus, acessórios, meias coloridas e bolsas carteiro, a ideia é que, para os próximos capítulos, a moda abuse de uma estética muito mais “vida real”, sem a preocupação de estar combinado ou seguindo uma tendência. Eu já falei aqui no blog sobre o normcore e ele é só o começo da brincadeira. Os moletons, tênis esportivo, modelagens amplas e folgadas, além das camisetas confortáveis (esquece as mangas dobradas!) já estão sendo desfilados pelo street style de algumas capitais da moda. A mania é mostrar uma roupa despreocupada que, ironicamente, acaba causando o efeito contrário. Os “propagadores” de tendências têm consciência dessa nova estética que está emergindo e apostam em looks pensados da cabeça aos pé. São os “normcore intencionais”. Mas é claro que, para o grande público, isso vai vir de uma maneira muito natural. Já li muitas matérias que relatam gente que já está abdicando da tecologia all the time e tiram tempos para aproveitar a natureza e a vida offline por dias. É esse tipo de comportamento que promete virar moda noos próximos anos. Sim, vai demorar anos até que isso se propague (e se pegar!). Essa foi uma tendência que apareceu em sites gringos de comportamento que mapeiam a sociedade e suas necessidades.

Via Sem Geração.

Blogueiro e designer de moda. Também escreve no Sem Geração.
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