(Men’s Fall Winter 2016 2017 Fashion Show – Gucci)
São nas semanas de moda como a SPFW que surgem as principais tendências que guiam as escolhas das marcar por uma ou duas estações. E é também neste período que surge o clássico comentário: Mas gente, por que criam essas roupas que ninguém vai usar?
Os que estão habituados com a moda entendem o seu objetivo, e sabem que o que está ali nos desfiles são expressões criadas de forma icônica para demostrar o que passou na mente do estilista para representar aquela estação. Mas ainda existe um ponto mais profundo e histórico que afetou diretamente os desfiles de passarela, assim partiremos deste ponto de reflexão.
“A Yves Saint Laurent tirou a moda de luxo dos salões abafados repletos até o teto de cadeiras douradas e a levou para a rua.” Tungate, 2014
Ainda na gestão de seu fundador, a YSL já apresentava um olhar de democratização em relação à moda, vendo já a ruptura que seria criada mais a frente entre a alta-costura e outras formas de produção e consumo, sendo umas das primeiras a trazer e implantar o prêt-à-porter (pronto para vestir) com uma boa imagem, além de diversificar a linha de produtos que a marca atendia. No ano de 1992, já com 30 anos de existência, 82% da renda da YSL já vinha de fragrâncias e cosméticos, um marco na moda, pois já mostrava que a marca já tinha transcendido seu produto original, já fazendo parte da lembrança e desejo das pessoas como comportamento.
Agora que a moda havia se democratizado, quem iria gastar cem mil dólares em um vestido?
No final da década de 90, surgem opiniões diversas em relação ao futuro da alta-costura. Calculava-se que no mundo inteiro haviam apenas 500 clientes de alta-costura, o que deixava ainda mais incerta a necessidade de sua existência. Mas ao mesmo tempo que essa imagem negativa se espalhava, não podiam deixar de lado que a alta-costura era a fonte de todo o sistema – sem o conto de fadas que ela criava sobre os produtos, a imagem das marcas acabava ficando abalada. Dessa forma, as pessoas começaram a se perguntar se alguém seria capaz de salvá-la.
Assim, em um modelo piramidal, a alta-costura passou a ser o topo da pirâmide, onde estilistas como John Galliano da Dior e Karl Lagerfeld na Chanel aproveitavam para refletir sua criatividade nos trajes. Eles, em seus desfiles, começaram a oferecer criações que pouco pareciam com o habitual e que dificilmente seriam vistas em pessoas na rua. Essa abordagem da alta-costura como um elemento artístico permitiu que as marcas fugissem das acusações de excesso, irrelevância e frivolidade que começaram a se alastrar pelo mercado, colocando-a como a fonte de inspiração das temporadas de moda que é a base do que vemos hoje.