Esse MPH Viagem tem um significado muito especial, por conta de minha origem nordestina, meu avô foi um dos muitos que emigrou do Sergipe para São Paulo em busca de novas oportunidades e também por que conheci pela primeira vez a realidade do Sertão Nordestino.
Em um convite super especial, a marca VERT me levou para o Sertão Central de Fortaleza, para conhecer uma comunidade produtora de algodão orgânico. O MPH foi o único blog a ser convidado, estavam na viagem Andrea Vialli do Valor Econômico, Paulina Chamorro da Rádio Estadão, Fabiana Moraes do Jornal do Comércio, Marcos Grinspum da Revista Brasileiros, jornalista francês Victor Roux-Goeken, TV Globo do nordeste e um canal de TV Francês.
A viagem começou em um vôo direto São Paulo (SP) – Fortaleza (CE) na noite de 26 de março, nos hospedamos em um hotel pousada no centro de Fortaleza chamado Hotel Jardim, super confortável e aconchegante, descansamos e partimos para nosso destino final, a comunidade de Riacho do Meio, cidade de Sertão Central, munícipio de Choró no Ceará.
Comunidade do Riacho do Meio, Sertão Central
A primeira impressão realmente é a que fica no semi-árido nordestino, ao desembarcar após três horas e meia no nosso destino final, a comunidade de Riacho do Meio, fomos recebidos pelos criadores da marca VERT, François e Sébastien em frente da igrejinha da comunidade, onde o artista brasileiro Derlon estava começando seu trabalho.
O Sertão é fascinante de todas as maneiras, seja nos olhar curioso das pessoas com os visitantes da cidade grande, passando pela paisagem pouco explorada, a simplicidade do povo da comunidade e a comida deliciosa que nos esperava.
Imagine um lugar onde só chove – e pouco – durante três a quatro meses por ano, esse lugar é onde se trabalha e batalha para auto sobrevivência, tivemos a sorte de durante nossa viagem chover na comunidade e fiquei mega emocionado de ver as pessoas dizendo felizes que a chuva traria benefícios para suas famílias.
Entre essas fámilias tive contato com Dona Francisca Lúcia (67 anos), João Félix (48 anos), Eliane Ramos (42 anos), S. Luis Barbosa (89 anos) a querida Dona Cleonice. Tivemos um almoço delícia e logo após tivemos a oportunidade de conhecer mais sobre o processo da agroecologia.
Comércio Justo, Agroecologia e o algodão orgânico
O Comércio Justo é um dos pilares da sustentabilidade econômica e ecológica, trata-se de um movimento social e uma modalidade de comércio internacional que busca o estabelecimento de preços justos, bem como de padrões sociais e ambientais equilibrados nas cadeias produtivas, promovendo o encontro de produtores responsáveis com consumidores éticos. Nesse pensamento a marca traz uma ligação direta com o produtor, sem intermédiarios, valorizando os pequenos produtores que trabalham para ultrapassar as dificuldades enfrentadas pela seca, tendo a produção [para venda e consumo próprio] e ainda com as técnicas e as preocupações do processo de desenvolvimento sustentável.
Nessa forma vimos as plantações de algodão orgânico, milho, feijão, gergelim, abóbora, mandioca, hortaliças, criação de ovelhas e gado, onde 70 famílias vivem. Tivemos uma aula de como plantar, técnicas para o cultivo, seja ela na conservação da água, escassa na caatinga, atráves das cisternas, passando por folhas de palha de carnaúba que são usadas para diminuir o desgaste do solo e conservar a umidade do terreno até ao uso de fertilizantes e defensivos naturais que também ajudam a preservar os escassos recursos da região.
Toda esse processo é supervisionado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e financiada com recursos do Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura (Fida), da Organização das Nações Unidas (ONU), a ONG (Esplar Escritório de Planejamento e Assessoria Rural) entidade responsável pela pesquisa e aplicação das técnicas agroecológicas para a cultura do algodão no semiárido e coordenado pelo Projeto Dom Helder Câmara.
E uma informação muito importante [publicada no jornal Valor Ecônomico]:
A marca VERT no ano de 2013 comprou 500 quilos de pluma de algodão dos agricultores da região (Riacho do Meio, Tauá e Quixeramobim) a um preço de R$ 7,39 o quilo, um preço 65% superior ao praticado no mercado e para cada par de tênis produzido, cerca de R$ 1,1 é pago aos produtores de algodão.
Projeto Ouro Branco & Derlon
Além de todo o conhecimento e descobertas tivemos o privilégio de acompanhar umas das primeiras residências artísticas em uma comunidade rural no sertão cearense, o artista plástico pernanbucano Derlon Almeida, partindo da idéia que a marca trouxe grandes resultados para a comunidade sugeriu uma residência artística baseada na históiria dos moradores em cordel usando a técnica de xilogravura do qual ele é conhecido mundialmente, ele pintou 12 intervenções nas cidades de Riacho do Meio, Tauá e Quixeramobim no Ceará.
E a documentação fotográfica das obras, foram capturadas pelo fotógrafo argentino Pablo Saborido.
E ainda não acabou, acontecerá uma exposição a base de uma mostra de lambe-lambes gigantes que acontecerá a partir de 10 de Maio nos muros da Praça Benedito Calixto em São Paulo, passando pelo Rio de Janeiro no dia 22 de maio e em Junho finalizarão a tour de intervenções em Paris na França.
Nesse processo, o próprio artista lançou esse vídeo abaixo e um CARTASE para arrecadar fundos para o projeto e a pessoa que ajudar ainda pode ganhar prêmios, incluindo tênis sustentável da marca, gravura em tamanho A3, fotografias, cursos de lambe-lambe, cartões postais e até uma pintura na sua casa.
Além disso a marca tem em parceria com o artista e lancará uma linha de produtos assinados com o estilo de xilogravura popular e uma estampa exclusiva que representa as nuvens do nordeste brasileiro.
Toda essa viagem leva até um calçado produzido no Brasil, no polo calçadista de Novo Hamburgo (RS), e além do algodão orgânico na sua fabricação, é usada a borracha nativa da Amazônia, produzida por associações de seringueiros do Acre, também dentro dos princípios do comércio justo até estar calçado no seu pé.
Crédito fotográfico: Pablo Saborido e Fabio Allves
Agradecimentos especiais: François Ghislain Morrillion, Sébastien Kopp, Violette Combe, Paul Duboc (Team VERT), Leandro Matulja (Agência Lema), Pedro Jorge Bezerra Ferreira Lima (Esplar), Fábio dos Santos Santiago (Projeto Dom Helder Câmara), Pablo Saborido e todos os moradores da Comunidade Riacho do Meio.
Muito interessante! É bom saber – ao comprarmos um produto – para onde vai parte do dinheiro. Se os franceses da Vert tb promoverem uma viagem a Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, no RS, não deixem de ir. O Vale do Sinos é uma região bastante rica, o completo oposto do Sertão Nordestino, mas é uma riqueza que se construiu com as mãos de operários nos curtumes e fábricas de calçado das mais de 50 pequenas e médias cidades da região, desde que os imigrantes alemães fundaram São Leopoldo, município que deu origem a todas as cidades do Vale, incluindo seu então principal distrito, Novo Hamburgo.
Aliás, o MPH já esteve no Vale do Sinos, na West Coast, em Ivoti. Então, vcs devem ter uma ideia de como é interessante o processo de manufatura de um calçado, principalmente, um calçado de qualidade.
Nasci em São Leopoldo, aliás…