Esses dias me vi pensando o seguinte: “Será que vivemos na geração do Intenso e Descartável?”
Na verdade esse foi um termo que eu criei depois de começar a pensar e até discutir com algumas pessoas sobre como, ultimamente, tudo tem sido intenso mas em pouco tempo, e infelizmente, se torna descartável.
É quase essa imagem que ilustra o post. Você se envolve com algo… é intenso… e depois você joga para fora da sua vida sem se importar com o resultado final.
Outra vez, quando fui para a casa dos meus pais, em Bauru, minha mãe me surpreendeu com uma coisa que ela guarda até hoje: as fraldas de pano que eu usava quando bebê. Não as usadas, lógico, mas sim uma caixa “novinha” das fraldas que eu usava. Embalada, como forma de uma lembrança. Olha ela aí:
Essa lembrança não é do fato ruim, de ter que lavá-las quando nós a sujamos. Mas sim de como ela se envolvia com o “seu bebê”. De limpar a criança até ter que lavar o que antes era uma peça de roupa infantil, a fralda de pano.
Não digo que as fraldas descartáveis são ruins, pelo contrário, elas surgiram para facilitar a vida das novas mães. Mas o fato é que esse momento da mãe ter que perder seu tempo se preocupando com uma fralda, com certeza, fazia muitas mulheres pensarem e repensarem: “Será que eu estou pronta para ser mãe?”. Hoje existem as fraldas descartáveis e a falsa impressão de que ter um filho é fácil. Mas pra quem não sabe, e eu mesmo não sabia, um pacote de fraldas descartáveis (24 unidades) custa cerca de R$20,00 e -pasmem- no começo, quando a criança é recém-nascida, ela costuma usar até 8 fraldas por dia! Faz as contas do gasto só de fraldas por mês. Bom, pra facilitar a vida vamos lá: um pacote de 24 unidades (R$20) dá para 3 dias = são 30, 31 dias por mês = 10 pacotes por mês = no mínimo R$200,00 em fraldas = 1/3 do salário mínimo brasileiro.
Outro dia quando estava quase entrando em um mercado, um homem (aparentemente “de rua”) me aborda dizendo não querer o meu dinheiro, mas sim que eu comprasse um pacote de fraldas descartáveis. Porém ele frisou: “Ah, de tamanho M, porque a minha filha é um pouco maior do que o normal.” Eu comprei para ele e quando entreguei pude perceber que o alívio foi maior do que a felicidade. E foi nesse momento que eu me lembrei novamente da fralda de pano. Será que elas não seriam a melhor opção para esse pai, que não tem dinheiro nem de comprar um pacote de fraldas?
Vejo muitas pessoas querendo TER filhos, mas não querendo SER pais. E é por isso que hoje em dia existem milhares de livros que tentam ensinar “Como criar um filho” e poucos sobre “Como ser bons pais.”
Mas voltemos ao assunto prioritário, a geração do intenso e descartável. Que tem um toque do que alguns chamam de “revolucionários do sofá”. Isso é, milhares de jovens que acreditam que estão lutando por mudanças, mas sem sair do sofá. E o melhor de tudo, não se importam com o resultado final do que começaram e se envolveram.
Parece que tudo, realmente e infelizmente, virou intenso e descartável.
Um grande amor/romance que você tinha e que por acontecer tudo muito rápido, foi-se muito rápido também; Um festival que você sonhava em ir, juntou muita grana, foi, e na outra semana já nem lembrava de como foi, ou até, em alguns casos, “se divertiu” tanto que nem tinha consciência de como foi (e isso eu acho muito maluco); Um filme que você esperou para ver, doou o seu tempo e saiu da sala do cinema sem nem discutir sobre ele; Uma causa, uma marcha, uma luta que você acreditava e que hoje nem sabe se teve resultado… Enfim, tudo virou descartável.
E eu não vou dizer que eu não sou dessa geração, eu nasci, cresci e vivo nela.
Muitos casos eu mesmo já descartei. Por isso resolvi pedir ajuda no Facebook para relembrar algumas histórias e casos que viraram alvoroço e com uma semana ou duas já entraram para o esquecimento geral da nação.
Zara e o caso da escravidão
O Brasil inteiro se revoltou com esse caso, que falamos até um pouco por aqui. Lembro que 3 dias depois eu estava em um shopping do Rio de Janeiro e resolvi dar uma olhada em como estava a ZARA de lá depois dessas notícias e sabe o que mais me surpreendeu? A fila do caixa era enorme… fizeram um bom desconto nas peças e as pessoas compraram sem nem pensar nos “escravos”. E hoje? Hoje nem lembram desse assunto. Se lembram, já não se importam mais. “Ah, acontece…”
Banda mais bonita da cidade
“Meu amor essa é a última oração”… Quantas pessoas você ouviu repetindo essa frase milhares de vezes pelas ruas? Bombou na internet, gerou milhares de apaixonados pela banda, a banda participou de dezenas de entrevistas na TV e muito mais. E essas mesmas pessoas que cantarolavam por aí a tal da “última oração” nem sabem por onde anda a tal Banda Mais Bonita da Cidade e o melhor, nunca foram num show deles. Isso é, cantar, colocar no Facebook, Twittar, falar que acha a letra sensacional não paga as contas. Dizem que na cidade deles, Curitiba, não se fala mais sobre a banda e, muito menos, que é bonita. (Para os desinformados – assim como eu estava antes de procurar mais sobre a banda – eles estão fazendo uma turnêzinha pela Europa)
Katilce e Julio de Sorocaba, do palco para onde?
Katilce dançou um “rala coxa” com o Bono e virou celebridade do Orkut, enquanto Julio de Sorocaba levou um beijo da Katy Perry (no rosto) e em poucas horas ganhou mais de 20 mil seguidores. Ambos foram para vários programas de TV falar sobre a história e como viraram “celebridades” da noite para o dia. O que ambos têm em comum? Hoje Katilce trabalha como bancária e Julio entrou para a Política, quer ser Vereador.
Churrascão da Gente Diferenciada
Quem lembra desse evento que começou no Facebook e tomou as ruas de Higienópolis? Até nós estivemos por lá! A ideia era protestar contra os moradores da região que eram contra a construção de um metrô na região para não trazer “gente diferenciada” para lá. Eles conseguiram transferir a estação para longe de lá. Mas e aí? O evento bombou, saiu na mídia e tal, mas nada mudou.
Menos a Luiza, que está no Canadá!
Nós fizemos a Luiza voltar do Canadá, virar DJ “Mãozinha” (quem entendeu?), fazer algumas aparições em festas e eventos sociais, pequenas campanhas publicitárias e nem sabemos se ela já voltou para lá. Aliás, se eu fosse ela, já teria voltado.
Visou e seu atendimento “indelicado”
Acredito que todos ficaram sabendo do caso da Visou, uma lojinha online que atendia (isso é, quando atendia), seus clientes de forma “indelicada”, não? Se não sabe, clica aqui. Pois bem, o caso é recente, não? Como sempre, as pessoas se pronunciaram no Facebook, xingaram muito no twitter, o caso virou matéria em dezenas de sites, etc. E todo mundo imaginaria que eles iriam fechar a lojinha e procurar outra profissão, certo? Errado. Eles já conhecem essa geração que estou falando. Eles voltaram, fizeram um novo site e sabe o que é melhor? Agora eles só recebem elogios na página fã deles! Juro, pode entrar agora e olhar. E todo aquele alvoroço todo?
E a política?
Esse é um assunto importante, visando que nesse fim de semana precisamos – obrigatoriamente – eleger um Prefeito e um Vereador. Mas o grande problema é que a política tem uma trava mental dentro da geração do intenso e descartável. Essa trava traz um registro de que “política” é um assunto “chato” e “imutável”, isso é, pouquíssimas pessoas querem discutir sobre o assunto e a maioria acredita que não há mudanças… “Político é tudo igual, todos roubam e não fazem nada.”. Tá fácil, assim? Hoje eu voto, amanhã esqueço.
Uma pesquisa, que apareceu no próprio site da Câmara dos Deputados (irônico não?), mostra que 30% dos eleitores não lembram em quem votaram para Deputado Federal. Quando falamos em Vereadores essa pesquisa sobe para mais de 48% que não lembram nem o nome do candidato que votaram para a Câmara Municipal.
“A amnésia em menos de 20 dias após o primeiro turno também atingiu a escolha para o Senado: 28% não sabiam mais o nome de pelo menos um dos dois candidatos, já que eram duas vagas para senador.”
Mas, para quem ainda se importar com política, fica o convite para um voto consciente nesse domingo! É importante lembrar que a política é feita no pré, durante e – principalmente – pós eleição.
Eu faço parte do grupo que luta pelo Voto Distrital e acho que é um é um sistema eleitoral bem bacana, pois permite ao povo fiscalizar de perto os políticos eleitos e assim, consequentemente, poder realizar as mudanças que desejamos ver no Brasil.
Mas infelizmente assim -ainda- caminha a humanidade, e como diria Lulu Santos, “… com passos de formiga e sem vontade …”, se envolvendo e descartando.
Até que um dia quem será descartada é a humanidade.
Muito boa a matéria, também faço parte da galera que almeja o voto distrital e o voto não obrigatório. Mas enquanto o Brasil realmente não entra nos eixos políticos, vamos fazendo nossa parte!!!
Eu também estive conversando com um amigo sobre mais ou menos isso tudo.
Meu amigo, que não se preocupa tanto com seu individualismo quanto eu, teve uma resposta mais concisa e lógica para essa charada toda. É apenas a internet. O pensamento coletivo. Aquela música indie que gruda na cabeça que você baixou mês passado? O McDonald’s a usou em seu comercial uma semana depois porque o cara que fez o anúncio também tem uma conexão de internet e também ouviu a música online.
A internet permite que temas que eram regionais se tornem globais em questão de semanas.
Acho que são poucas as pessoas que vivem intensamente… Que deixam a barba crescer, que fotografe suas coisas com uma câmera antiga de filme (preferem cortar caminho, aplicar um filtro anos 70 do Instagram na foto feita com seu iPhone antes de postar no Twitter), que comam uma comida orgânica e não façam questão que as pessoas saibam que fez tudo isso através das rede sociais.
Nós estamos perdendo o contato com as coisas simples da vida. E estamos perdendo toda a nossa individualidade.
É isso.
Ótimo texto
Cara, Intensa e Descartável é a internet.
Quanto mais tempo passamos aqui menos valor damos para o que acontece de verdade, e logo esquecemos, procurando algo novo.
Sou a favor de – internet + vida.
Adorei o texto, reflete bem a realidade a qual estamos submetidos. E a tendência é sempre piorar!
http://www.senhordoseculo.com
sempre me pego pensando nisso hahaha, belo testo guilherme, acho que isso se dar por causa dessa nova geração sem raiz, a maioria vive á mercê da internet, onde tudo é muito globalizado, e com um senso crítico pequeno, aderem a tudo que está na moda, e como por sua vez, a moda é algo passageiro, fica nesse looping de modinhas escrotas… e hoje em dia é muito mais fácil ter acesso a informação, graças a internet, está tudo lá, em fóruns, wiki… tudo que você imagina tu pode encontrar, mas o problema é que ninguém se aprofunda de verdade, fica só naquela de superficialidade. lamentável porem é a realidade!
god bless
Gostei do texto. Só acho que a vilã não é a internet e as novas tecnologias, como falaram em alguns comentários, mas sim como as pessoas lidam com tudo isso. E algumas das coisas “descartáveis” que você citou como exemplo (A banda, a Luisa, os que subiram no palco) nasceram para serem descartáveis, não tem jeito. É notícia, só fica quem gostar mesmo deles. E acho que isso não é tão exclusivo da nossa geração.
Mas no geral, eu concordo. O caso da política, eu gostei bastante. Essas situações com todas essas informações geraram uma onda de pessimismo terrível na nossa sociedade.
Muita gente devia tirar um tempo para respirar, parar, pensar, se acalmar, e viver.
Ótimo post. Vivemos numa época de relacionamentos efêmeros. Numa época em que os jovens são os catalizadores das grandes mudanças, o que torna o papel desses mais importante na recuperação de alguns valores revolucionários da juventude libertária.