O desfile como bem sabemos é uma forma de se contar uma história. Para a grande maioria talvez seja uma exposição de roupas em que modelos lindos, com corpos esculturais mostrem poder, luxo e glamour.
O nosso público, gostemos ou não, é predominantemente masculino e é foda tratar de um assunto como esses. O censo comum do público masculino é achar que desfile é coisa de boiola, de gente fútil ou que é totalmente desnecessário. Ah, se eu estiver errado me corrijam, os comentários estão ai exatamente para isso!
Pois é, mas não é bem isso não o que achamos. Cada desfile é uma surpresa. Uma forma diferente de se mostrar o mundo por meio de roupas. Quando as luzes se acendem, a trilha sonora começa e os primeiros modelos começam a despontar no fim do túnel, ali, em questão de minutos, será criada uma nova narrativa.
Essa narrativa tem todo um clímax desenvolvido e criado para abraçar seus convidados. Na passarela já vimos de tudo. Cenas chocantes, protestos e até o famoso e lúdico conto de fadas.
Há produções e produções. Estilistas que fazem para vender e outros apenas para ver. O final é sempre o mesmo, em pé aplaudimos o trabalho de dezenas ou centenas de pessoas que se esvai em questão de minutos.
Por trás de grandes nomes, há costureiras, stylings, diretores criativos, maquiadores, fotógrafos, casting, equipe de luz e som…. E fora tantos outros aí perdidos no meio caminho. É gente para chuchu que rala para caralho. Ali, todos dão o seu melhor, goste você ou não. Tente ao menos compreender que se trata de um trabalho de cunho artístico, social e histórico.
A roupa que veste um corpo vai além de linha, costura e botões. Ela não anda, ela literalmente desfila, constrói enredos, determina condutas, crítica sistemas e faz história.
Desfiles são verdadeiras obras de arte. Incompreendidas por muitos que viajam na maionese. Por isso, vez ou outra são cuspidas expressões: “que coisa horrorosa”, “quem usa isso?”, “nossa, cada coisa estranha”, entre muitas outras coisas que já ouvimos por aí.
Sim, entendemos também essas generalidades. Há muitos estilistas que incorporam a coisa de verdade e fazem verdadeiras fantasias e não é fácil mesmo para o leigo entender o que se passa na cabeça do ser sem ler o release.
E só para constar, na SPFW nem acho que isso se faça tão presente, A maior semana de moda do Brasil é bem comercial. Acreditem se quiser! A criatividade vem à terra e reina na Casa de Criadores.
Quem nunca foi, tem de ir ao menos uma vez. Powww, lá os caras incorporam inspiração total. Eles ligam o “foda-se”. Tem cantor fazendo apresentação. Poeta declamando versos de muito descontentamento. É o local de casting mais diversificado. Presos, pobres, negros e trans. Sem contar os vários desfiles com cunho social e ambiental.
Não estou aqui pra fazer propaganda da Casa de Criadores, mas o André Hidalgo está de parabéns mesmo e bora lá continuar a falar de desfiles (foi só um parênteses).
Na era das redes sociais, do imediatismo e dos likes, cada vez mais os desfiles foram questionados. Como serão abordados? Mas como ficarão agora? E qual o futuro?
Semanas de Moda ganharam numerações. Coleções perderam a noção de estação. E para finalizar ‘See Now, Buy Now’. É aquela coisa: O aqui, o agora. A gosto do cliente. Os likes têm peso sim e os influencers espaço. Condições do tempo em que estamos vivendo, mas os desfiles serão os mesmos de sempre, apenas com novas roupagens.
Para se opor a tudo isso, coleções sustentáveis, procedência das peças, valorização da mão de obra local e slow fashion. Dualismo que fala, né mores. E quem está certo? Só o tempo para nos dizer.
Percebam o quanto um desfile faz girar uma economia, o quanto pode mudar e transformar vidas, construir sonhos e transformar estruturas socioambientais. Por isso, antes de abrir a boquinha e jogar tudo na vala comum, lembre-se: desfile não é só para fashionista nem para gay, muito menos coisa de gente frívola. Demorou?
Se não faz parte do seu meio, momento histórico ou cultura apreciar um, não vá ou não toque no assunto, já que, com certeza você sequer tem propriedade para falar de um. Assim faço o mesmo com futebol, do qual não entendo nada.
Das brasilidades de Ronaldo Fraga aos esvoaçantes vestidos de Reinaldo Lourenço, desfile é moda, cultura e arte, antes de opinar aprenda a compreender um.