MPH Entrevista: Dudu Bertholini fala de Moda Pós-Covid, SPFW e muito mais

Hoje teremos um post um pouco diferente dos tradicionais. Fizemos uma entrevista com um dos maiores nomes da moda nacional. Sou fã há tempos desta pessoa. Para ser sincero, desde a primeira vez que a vi na SPFW. Exótica, diferenciada, estilosa… E com o tempo, ao vê-la dando várias entrevistas, fazendo lives e ministrando cursos, percebi que é sumidade quanto o assunto é moda e que poderíamos aprender muito com ele.

Por isso, resolvemos selecionar temas, assuntos e questionamentos bem atuais para mandar para o Dudu responder aqui no Moda para Homens.

Moda Pós- Covid, SPFW e muitos outros assuntos serão tratados na entrevista.

1) Como você vê a moda no ano que vem? Será que ela se recupera?

Não é apenas sobre se recuperar, é sobre mudar estruturalmente. A moda não estava “normal”, ela já sinalizava urgência de mudança há tempos. A pandemia só está acelerando esse processo.

Essa recuperação não deve ser sinônimo de voltarmos ao que éramos antes.

Acredito que a moda vá se recuperar criando novos modelos de criação, de produção e consumo, menos hegemônicos, mais democráticos, e que incentivem as economias locais.

2) Quando você acha que os modelos atuais de desfiles, vendas e lojas com presença física se restabelecem?

Esses modelos já não são mais atuais. Não podemos voltar tudo ao que era antes, senão de nada terá valido todo esse sacrifico coletivo que estamos enfrentando.

Esse “futuro”, essa retomada, será fruto de uma construção diária, desenhado pelas nossas atitudes dia após dia. Se tivéssemos respeitado o isolamento como deveríamos, por exemplo, já estaríamos em uma situação bem melhor.

Quem está preso aos antigos meios de produção, se agarrando aos antigos conceitos de “normalidade”, vai sofrer mais. Quem estiver se adaptando ao máximo, e entendendo a melhor contribuição que pode dar nesse momento, pensando coletivamente, é quem vai na frente.

3) O que a COVID-19 mudou na moda?

Essa é uma resposta complexa, com diferentes respostas a cada dia.

As pessoas estão menos tolerantes a superficialidade, repensando o que é de fato necessário.

Novos códigos de vestir estão sendo criados, dentro de casa e nas ruas. O “look do dia” virou o “look da live”, as pessoas se vestem mais da cintura para cima, e estão incorporando novos itens de vestuário, como máscaras e luvas.

O consumo digital se fortaleceu e deve promover muitas evoluções e experiências omnichannel. Esses são apenas alguns aspectos de um amplo cenário.

4) Qual é o papel do marketing de influência hoje na moda?

O MKT enfrenta uma das maiores crises diante da pandemia, pois ele vinha tentando envernizar de bons discursos um incentivo predatório ao consumo. As marcas terão que ser cada vez mais verdadeiras, praticar de fato o que pregam. A ascensão da busca por “bons influenciadores”, que cresceu na pandemia, é um reflexo disso.

5) Por que a moda nacional não alavanca lá fora?

Não acho que essa seja a questão no momento. Até porque agora todos os países devem incentivar suas economias locais, seus criadores e suas próprias cadeias produtivas, para que a retomada econômica crie um cenário mais justo do que se praticava antes.

Sempre foi muito difícil exportar Moda Brasileira devido às altas taxas e impostos, e pela falta de políticas de incentivo. O que faz mais sucesso fora é aquilo que é nosso, que é autêntico. Quanto mais nos libertamos de pensamentos colonizados como “o que é de fora, é melhor”, mais nós assumimos o controle da nossa própria História.

6) O consumidor irá mudar com tudo isso?

Vamos todes mudar. Nós já mudamos.

Devemos tentar cada vez menos nos enxergar como consumidores, e sim como pessoas, para não criar um distanciamento que já vinha acontecendo há muito tempo.

Certamente as pessoas vão buscar consumir produtos que estejam mais alinhados a suas visões de mundo.

7) Você acha mesmo que tudo será sustentável pós-corona?

Infelizmente não acredito que tudo será sustentável. O Corona acelerou o que já vinha acontecendo no mundo. Ele não “mudou o mundo”, ele evidenciou com tintas mais fortes o que o mundo já estava se tornando.

Nós já vivíamos em um mundo de pessoas/consumidores muito diferentes, e isso continuará a ser assim. Mas estamos presenciando o crescimento de uma consciência mais sustentável, na Moda e no Mundo. Cada um de nós deve lutar para que essas pautas não sejam esquecidas depois da pandemia.

8) Há muitas críticas sobre esses castings que quebraram padrões caucasianos, o que você acha desses castings que abraçam todos ? Um dia pode voltar o padrão antigo ?

As maiores críticas são aos castings que perpetuam os antigos padrões hegemônicos, como vimos no caso do cancelamento do desfile da Victoria’s Secrets, que por toda uma era foi o maior emblema de padronização na Moda.

Representatividade é muito importante em um mundo justo e democrático, e a falta dela reforça a naturalização das descriminações vigentes.

Pessoas que crescem sem ver suas raças, gêneros, e diferentes corpos representados podem desenvolver inúmeras disforias. A Moda veste a todes, então não haveria porque ela não representar a todes em sua criação, comunicação e distribuição.

Não podemos permitir que antigos padrões se estabeleçam novamente. Essa reivindicação deve partir de todes nós.

9) O que pode ser feito na sua opinião para a SPFW voltar a ser o que era? (com status de relevância).

Nada deve voltar a ser como era. Estamos construindo novas narrativas.

O Paulo Borges e a SPFW se transformaram ao longo de suas trajetórias, assim como a Moda e o mercado também mudaram. A Moda sempre teve o papel de refletir o tempo à qual ela pertence, e eles sempre souberam fazer isso muito bem. O fim da sazonalidade, por exemplo, que é um dos caminhos que está se fortalecendo na pandemia, já está vigente há dois anos na SPFW.

10) O que uma boa coleção ou marca deve ter para deslanchar no mercado?

O novo não está mais nas formas, cores ou nas tendências, que vão perder cada vez mais força na forma como as conhecíamos. O novo está na legitimidade dos discursos de umx criadorx ou de uma marca, e o quanto elxs estão alinhados aos valores de seus consumidores. Essx criadorx ou marca só vai deslanchar se tiver uma identidade própria, um diferencial.

Não precisamos de mais roupas, precisamos da projetos relevantes, que façam alguma diferença positiva.

O que vocês acharam da Entrevista? É para se ler, estudar e guardar. Dudu é fera. É referência para quem está começando, trabalha ou curte moda de alguma forma.

Fotos: Gabriel Renne.

Diogo Rufino Machado

Ariano. Apaixonado por moda masculina e música eletrônica. Advogado. Jornalista de moda e blogueiro nas horas vagas.

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