Fios da Moda: Primeiro relatório sobre a transparência da indústria têxtil nacional

O Brasil está bem atrás da Europa e dos EUA com relação à informação e aos dados sobre a sua indústria têxtil. Mas o primeiro passo foi dado há alguns dias…

No dia 10/02/2021 (quarta-feira) nasceu nosso primeiro relatório que sistematiza dados sobre a indústria têxtil nacional, ou melhor, pelo menos deveria ser assim e já lhes contaremos o porquê.

O relatório batizado de Fios da Moda, pode ser acessado por qualquer um gratuitamente aqui.

A pesquisa foi realizada por 3 grandes centros de pesquisa: Modefica, o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas e a consultoria internacional Regenerate Fashion.

O estudo focou, principalmente, na sustentabilidade, na economia circular e em três matérias-primas principais: algodão, viscose e poliéster. E como dissemos deveria focar, pois o que ele comprovou é que o Brasil ainda dispõe de poucos dados sobre a sua cadeia produtiva na indústria têxtil. Isso fez com que o relatório seja carente de dados e informações, porém o primeiro passo foi dado e, com certeza, a partir dele serão exigidas mais informações dos produtores das 3 matérias-primas pesquisadas.

A falta de informação gerou um relatório carente, mas melhor que nada não é mesmo? Se considerarmos que estamos muito longe de sermos transparentes, a existência do relatório se fez ainda mais importante.
Fios da Moda de um start muito importante para a história da moda nacional. Estamos diante de um marco muito importante em relação a nossa cadeia de produção têxtil. E temos que dar muito valor nisso.

Sem contar que esse relatório se faz importante não só para a indústria, mas sim ao consumidor. Sim, muitas mudanças são provocadas debaixo para cima e a partir dessas informações poderão eles ter livre-arbítrio no que escolher para comprar. Informação, conhecimento e dados concretos são a maior arma na hora de consumir, escolher o produto certo e que realmente são ideais para uma transformação concreta na nossa forma de produzir.

As transformações que sempre almejamos só serão possíveis por meio desses dados concretos. Que dados concretos né? Pois percebemos que o Brasil dispõe de poucos dados e dificuldades em repassar dados sobre a produção das culturas já citadas.

Só com esses dados é que poderemos pressionar organizações, marcas, produtores têxteis e a agroindústria. Não tem outra forma.

Lembremos que esses dados deveriam públicos e de fácil acesso, mas não são. Pelo menos em terras tupiniquins. Principalmente por falta de iniciativas públicas na área Ah, sem contar que somos os maiores produtores de algodão e celulose solúvel (matéria-prima da viscose) do Mundo e já passou da hora de nos pautarmos em economia circular e na sustentabilidade, não acham?

Alguns dados levantados pelos Fios da Moda:

• No Brasil, o algodão é a quarta cultura que mais consome agrotóxicos, com destaque para o glifosato, que corresponde a mais da metade do volume de agrotóxicos comercializados no país;
• O equivalente a cerca de 16 caminhões de lixo têxtil é descartado por dia só na região do Brás, em São Paulo;
• O algodão é responsável por aproximadamente 10% do volume total de pesticidas utilizados em território nacional;
• A etapa de produção de matéria-prima é o principal ponto crítico no impacto à biodiversidade e ocupação do solo pela cotonicultura, sendo responsável por 99% do impacto total;
• Em relação ao cultivo de algodão convencional, o cultivo de algodão orgânico pode reduzir as emissões de GEE em 58%;
• 56,8% das pessoas estariam dispostas a reciclar suas peças de roupas se soubessem que elas, de fato, estão sendo recicladas enquanto 26,3% se sentiram motivadas por terem um ponto de coleta por perto. Ao mesmo tempo, 49.9% das pessoas nunca ouviram falar sobre reciclagem de roupas no Brasil;
• A produção agroecológica de algodão tem impacto positivo sobretudo na qualidade de vida das mulheres camponesas e na soberania alimentar.

Já demos o primeiro passo. O mais importante é isso (sair o primeiro relatório). Embora sedentos por mais números e informações. Já sabemos que caminho seguir. Os primeiros passos são tão importantes quanto os demais. Já temos o direcionamento do que falta pelo menos. Há muito que se fazer. Há muito que se exigir. Os Fios da moda são o início de um novo período na moda nacional. E o Modefica, o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas e a consultoria internacional Regenerate Fashion estão de parabéns pela iniciativa!

Diogo Rufino Machado

Ariano. Apaixonado por moda masculina e música eletrônica. Advogado. Jornalista de moda e blogueiro nas horas vagas.

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