Negro foi mudando seus looks para ver se as pessoas o tratariam de forma diferente

Tyler Dunlavy, um rapaz de 24, fez um experimento social para o site BuzzFeed que eu achei bem interessante e gostaria de compartilhar por aqui:

Por toda a minha vida, eu sofri uma série de micro-agressões – de funcionários me seguindo em lojas a mulheres segurando suas bolsas com força ao me verem. Aos 13 anos de idade, fui detido por policiais que suspeitavam de algo que eu não fiz. Pouco tempo atrás, uma mulher agarrou seu filho e correu para uma loja para se afastar de mim quando eu estava andando pelo quarteirão. Eu não quero ser mais uma estatística e ter minha aparência culpada por isso. Mas eu não vou me resignar e mudar minha aparência só para fazer as pessoas se sentirem mais confortáveis perto de mim. Eu me visto exclusivamente de acordo com o meu humor, e geralmente a minha escolha é algo “confortável / que me permita andar de skate” chique, ou alguma coisa assim. ¯\_(ツ)_/¯

Eu estou curioso para ver o efeito que minhas escolhas de vestuário têm na minha vida com um jovem homem negro de Los Angeles.

Então, para descobrir, eu decidi passar uma semana me vestido bem, e depois outra semana me vestindo de forma mais descontraída para ver como as pessoas me tratariam.

AS REGRAS

1. Eu tenho que realizar as mesmas atividades nas duas semanas.
2. Enquanto eu estiver bem-vestido, preciso colocar a camisa para dentro da calça e usar uma grava e/ou um paletó.
3. Enquanto eu estiver me vestindo de forma mais relaxada, todas as combinações precisam ser roupas com as quais eu pudesse dormir confortavelmente.
4. Eu não vou expor minhas tatuagens em nenhuma das semanas.
5. Eu não vou mudar meus comportamentos típicos ou agir diferentemente de como eu agiria normalmente.

Dia 1

O que pensei enquanto estava todo arrumadinho: Eu me sinto pretensioso, desconfortável e envergonhado, especialmente por causa do paletó. Um certo verso de Kanye West veio à mente “So I don’t listen to the suits behind the desk no more / You n****s wear suits ‘cause you can’t dress no more” em “Last Call”. Eu tive que caminhar com cuidado, para tentar diminuir o barulho insuportável dos meus sapatos, meu cinto precisava ser constantemente ajustado e, somado a tudo isso, essas calças faziam minha cueca subir.

Experiências: A mulher que trabalhava na 7-Eleven me cumprimentou com um sorriso e instantaneamente perguntou Por que ISSO? Reunião ou entrevista?” “É pro trabalho”, respondi enquanto pegava meu troco para o ônibus. Ela ergueu as sobrancelhas e sutilmente acenou com a cabeça. Isso tudo nos 10 minutos do meu dia e eu pensei comigo mesmo, Caramba, essas duas semanas vão ter vários acontecimentos. Meu ônibus passou e meu cartão de passe não tinha c´redito suficiente, mas antes que eu pudesse usar o troco que eu peguei na 7-Eleven, o motorista disse que não tinha problema. Foi por pouco. Consegui economizar meu troco.

Para almoçar, eu fui até o BLD, um lugar meio sofisticado. O atendimento foi legal — o atendente me acomodou na frente do restaurante e eu recebi meu pedido antes de dois senhores que chegaram primeiro que eu. Eu andei até o Banco Chase e o segurança não só abriu a porta para mim mas também me disse para assinar uma lista de espera para ser atendido por um caixa. Na saída, depois que eu perguntei onde ficava o caixa eletrônico, ele me informou sobre o estacionamento disponível, presumindo que eu estivesse de carro, mas eu tinha chegado lá a pé.

O que eu pensei enquanto estava com uma roupa mais descontraída: Eu me senti muito mais confortável usando moletom e calça de abrigo. Eu não tinha que me preocupar com o barulho dos sapatos sociais ou se meu cinto estava no lugar certo. Um Kanye West anti-terno ficaria orgulhoso.

Experiências: Eu vi a mesma mulher na 7-Eleven e ela só me perguntou se eu queria a nota. Meu ônibus passou e, novamente, não havia crédito suficiente no meu cartão de passe, mas a motorista não deu partida no ônibus enquanto eu não coloquei mais vinte e cinco centavos para começar a completar a passagem. Só então ela me disse que eu podia embarcar. Então eu ainda consegui economizar um pouco, mas foi meio diferente, dessa vez.

Eu fui ao BLD de novo para almoçar e fui recebido pelo mesmo atendente. Dessa vez ele olhou para o fundo do restaurante para procurar um lugar para me acomodar. Ele acabou me acomodando na frente, coincidentemente ao lado do caixa. Eu recebi minha comida consideravelmente rápido e ele me perguntou se eu precisava de molho de pimenta, parou, e acrescentou sal e pimenta. Eu o peguei me olhando pelo canto do olho durante minha refeição. No Chase, o mesmo segurança apenas me cumprimentou com um aceno de cabeça. Ninguém me atendeu quando eu entrei e, após sentar lá por vários minutos, eu lembrei de assinar a lista de espera. O caixa que me ajudou na semana anterior estava acompanhando um cliente até a saída e, após passar por mim algumas vezes, finalmente se aproximou.

Pedro Fequiere para o BuzzFeed.

Dia 2

que pensei enquanto estava todo arrumadinho: Eu estava muito mais confiante com o que eu estava vestindo. Fiquei aliviado sem o paletó porque com ele parecia que eu trabalhava no Serviço Secreto ou como um jornalista que cobre grandes conferências, e sem ele eu era apenas mais um executivo fazendo coisas de adulto. Esse conforto foi despedaçado assim que o barulho dos meus sapatos anunciou a minha chegada. Eu prefiro ser visto, não ouvido. Mas agora passei a respeitar mais o galope dos cavalos.

Experiências: Eu fui para a academia, inseri meu número de telefone, entrei com a minha impressão digital e fui cumprimentado com um “Tenha uma ótima malhação, Pedro”. Na farmácia, o caixa disse “Como está, chefe?” e eu recebi um “boa noite” do recepcionista na livraria The Last Bookstore, no centro. Como meu amigo Ice Cube diria, “Hoje foi um bom dia.”

O que eu pensei enquanto estava com uma roupa mais descontraída: Eu me certifiquei de vestir essas roupas no dia que fui para o trabalho dirigindo por causa da flanela vermelha. Eu sempre penso nos lugares para onde estou indo e nas cores que uso porque posso ser confundindo com um membro de gangue. Eu passei frio nas pernas e a maciez dos meus sapatos me fez ficar consciente dos meus passos.

Experiências: Eu não fui tratado de forma diferente na academia, mas as pessoas não ficam muito bem-humoradas no domingo, de qualquer forma. O caixa na farmácia estava me olhando pelo canto do olho mas não disse nada. Eu atravessei a rua e um homem de camisa e gravata abriu a janela e aumentou o volume da música. Ele estava ouvindo Future e se certificou de que chamou minha atenção. Apesar de ouvir Dirty Sprite 2 com frequência, me estranhei que esse homem tenham me chamado a atenção. Na livraria, eu recebi ois e tchaus normais dos funcionários.

Dia 3

O que pensei enquanto estava todo arrumadinho: Eu estava recebendo elogios dos meus colegas de trabalho, então estava ansioso para ficar elegante e completar meu visual com uma gravata. Eu também me acostumei a acordar cedo para passar minha camisa e calça social.

Experiências: Um vizinho, que nunca tinha feito contato visual comigo antes, sorriu e disse “Bom dia”. Eu fui ao Lulu para almoçar e o dono me deu boas-vindas com um sorriso e me levou até meu lugar habitual. Meu pedido foi trocado e me deram frutas ao invés de batata frita, mas a mulher que me atendeu rapidamente consertou isso.

Na saída, um grupo de homens de meia idade se moveu para me deixar passar. Eu desci até a Meltdown Comics, uma loja de quadrinhos, onde me senti deslocado por causa das minhas roupas, mas em casa porque eu estava cercado pelas coisas que adoro. Na Vacation Vinyl, eu recebi um “E aí, cara?” do cara atrás do balcão que foi seguido por “Você está procurando por algo em particular?” Ele ficou animado quando perguntei sobre um CD do Turnstile e nós começamos uma conversa sobre bandas de hardcore e punk.

O que eu pensei enquanto estava com uma roupa mais descontraída: Coloquei um simples moletom com calça de abrigo que serve melhor do que as roupas do dia anterior. Eu me preparei mentalmente para as micro-agressões que eu iria sofrer durante minha rotina matinal enquanto me lembrava de agir como eu normalmente agiria.

Experiências: Eu me senti bem andando para o Lulu para almoçar, mas o combo de moletom e calça de abrigo não foi a melhorar escolha para o tempo quente. Eu vi a mesma garçonete e ela rapidamente anunciou meu pedido para mim antes que eu pudesse dizer uma palavra. No caminho de volta ao trabalho, um manobrista quase me atropelou e eu tive que sair do caminho. Na Meltdown Comics, eu encontrei um quadrinho de um artista com quem eu estudei, então perguntei ao funcionário como alguém pode enviar seu trabalho para a loja. Ele me perguntou sobre a minha conta do Tumblr e gostou do meu trabalho! Foi muito legal. De acordo com a minha experiência, artistas visuais são sempre receptivos, mas esse momento de reconhecimento foi especial para mim.

Pedro Fequiere para o BuzzFeed.

Dia 4

O que pensei enquanto estava todo arrumadinho: Eu me senti uma nova pessoa! Gostei da gola rolê porque ela cobriu o meu pescoço, que é grande pra caramba. Não sou um fã de paletó, mas a gola rolê compensou. E após o terceiro dia, essas roupas elegantes não eram tão ruins.

Experiências: Eu tive que correr atrás do meu ônibus e embarcar no próximo cruzamento. A motorista sorriu para mim quando eu agradeci. Quando alguns adolescentes negros entraram no ônibus, eu me senti como o pai deles por causa das minhas roupas. Eu fui ao Beverly Center e imediatamente me senti muito formal e rígido, como um completo panaca. Eu decidi ir das lojas de nível intermediário para as luxuosas. Na Express Men, o funcionário foi bem cordial e me contou sobre as promoções e me deixou comprar. Não fiquei tão confortável na Club Monaco, onde os funcionários estavam em uma vigília preventiva de furtos. Eles me levaram a um provador e uma das mulheres me disse que ela gostou das minhas roupas, o que fez com que eu me sentisse menos panaca. Eu fui até a Louis Vuitton e dei uma olhada nos sapatos, e lá um funcionário me contou que eles tinham “vários estilos, ótimas cores.”

O que eu pensei enquanto estava com uma roupa mais descontraída: Eu adorei esse moletom e ele provavelmente entraria no meu guarda-roupa se não fosse tão grande. Eu estava inseguro sobre como as pessoas me tratariam no shopping dessa vez, mas eu não estava tão auto-consciente como na semana anterior.

Experiências: Eu fui até a Express Men e não havia um funcionário à vista então eu fiquei andando por lá. Finalmente, uma mulher apareceu e perguntou se eu precisava de alguma coisa; eu disse que estava só dando uma olhada e a peguei me encarando algumas vezes enquanto eu olhava os itens. Quando eu pedi para ver o tamanho de uma peça na Club Monaco, a mulher pareceu irritada, mas finalmente encontrou a camisa. Foi frustrante na Louis Vuitton porque não só foi óbvio que eles tinham dois pares de olhos em mim, mas também porque ninguém se incomodou em me reconhecer como um cliente. Antes que eu tivesse a chance de olhar qualquer coisa ou continuar caminhando pela loja, um segurança me abordou perguntando se eu tinha alguma pergunta. Nessa hora, eu estava tão incomodado com a experiência que quis ir embora, mas conferi os sapatos só para ser ignorado pelo homem que trabalhava na seção.

Dia 5

O que pensei enquanto estava todo arrumadinho: Vestir-se bem é legal. Eu me sinto elegante, mas não me sinto eu mesmo. Estou feliz por ser o último dia porque eu estou ficando sem roupas! Andar assim faz com que eu me sinta mais importante do que eu realmente sou. Eu também reparei em mais pessoas vestindo ternos, do mesmo jeito que eu reparei em todo mundo com dreadlocks quando passei a usar esse estilo de cabelo.

Experiências: No ponto de ônibus, eu reparei que minha braguilha estava aberta, o que me fez perceber que eu não mudei, independentemente das roupas que eu visto. Meus fones de ouvido estavam no último volume enquanto eu balançava a cabeça como J Dilla. Uma mulher sentou ao meu lado no ônibus, mesmo havendo uma boa quantidade de lugares disponíveis.

O que eu pensei enquanto estava com uma roupa mais descontraída: Eu estava aliviado e feliz por ser o último dia. Eu me perguntei por que eu fiz esse experimento e “Fiz para me irritar” foi a única coisa em que consegui pensar. Foi uma semana de provação.

Experiências: Enquanto eu esperava pelo ônibus num banco, um carro parou na faixa da direita e deixou uma quantidade considerável de espaço entre ele e o carro da frente. A única coisa entre os carros era eu. Talvez ele só estivesse mantendo uma distância segura, ou talvez trancar a porta fosse uma coisa muito anos 1990 para ele.Um casal de idosos também manteve distância de mim no ponto de ônibus e esperou na esquina. Quando eu vi o ônibus descer a rua, eu levantei e fiquei atrás do casal, para que eles pudessem entrar antes de mim. Eles instantaneamente se sentaram no banco. O homem mais velho finalmente entendeu meu gesto quando o ônibus parou no ponto. Enquanto eu andava para pegar o segundo ônibus, uma mulher trocou a bolsa de lugar, para que ela ficasse o mais longe possível de mim.Não pude evitar um certo desânimo e fiquei emotivo de verdade quando fui colocar o episódio nas minhas anotações.

Pedro Fequiere para o BuzzFeed.

CONCLUSÕES

Durante minha semana todo arrumadinho com paletós, gravatas, cintos e sapatos barulhentos pra caramba, meu conforto inicial desapareceu à medida que eu percebia que as pessoas realmente estavam me tratando melhor. Foi muito surpreendente ver como eu ficava consciente da minha identidade quando estava vestido casualmente. Eu adoraria dar às pessoas o benefício da dúvida, mas não foram incidentes isolados. Houve vários momentos em que me senti rejeitado e temido.

É esse mesmo desconforto presumido que pode fazer com que um policial atire em uma criança, adolescente ou adulto negro desarmado. Essa predisposição que as pessoas têm para pensar que homens negros podem ser criminosos violentos faz com que os maus-tratos que recebemos sejam vistos como algo normal, e não como preconceito ou injustiça. O que eu escrevi sobre os momentos em que estava me vestindo casualmente não é muito diferente do que um universitário negro pode sentir enquanto está na aula. Mas por que uma mulher precisa proteger os seus pertences de mim em plena luz do dia? Por que tem que ser para uma entrevista se eu estiver bem vestido? Por que um grupo de vendedores de loja precisam destinar toda sua atenção para mim se eu estiver de moletom? Ou por que eles acham que podem se aproximar se eu estou com a camisa por dentro da calça? Eu não sei, mas eu não deveria ter que mudar meu modo de vestir para não ter temido.

Fonte: BuzzFeed Brasil.

Guilherme Cury

36 anos, taurino, blogueiro e músico nas horas vagas. Criou o MPH há 10 anos com o objetivo de trazer as principais novidades do universo da moda masculina para o homem que se importa com o que veste.

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