Inclusão, representatividade e quebra de paradigmas formam o novo Manual da Moda

A moda que hoje anda pelas ruas, desfila nas passarelas, estampa capas de revistas e define coleções, já não é a mesma de outrora. Aliás, quem diria que ela caminharia para ser totalmente oposta do que um dia já foi? Com certeza, nem o maior dos videntes poderia prever esse futuro.

O que você enxerga hoje como moda NÃO TEM NADA A VER com o passado. E passado nada longínquo. Coisa de no máximo 10 ou 20 anos representa muitas mudanças e transformações.

Até então falar de moda para muitos era viver de frivolidades e aspirar superficialidades. Sim, a moda era vista como algo excludente, arrogante e efêmero.

Corpos esbeltos, modelos altas lindas e loiras (no sentido literal). Cláudia Schiffer, Gisele Bündchen. O padrão 1,80 para cima, caucasiano (loiras de olhos azuis) e que não comem, era o ideal para a moda. E, óbvio, estamos falando na moda em geral, mas podemos transportar tudo que dissemos para o universo masculino (que por sinal ganhou vida e força nos últimos anos, pois era um universo permeado de mulheres). Essa moda era desenhada e representava quantos por centos da população mesmo?

Hoje de pernas para o ar (diga-se de passagem, graças a Deus) ela extirpou esse passado, tornando-se totalmente o inverso do que um dia já foi. E para nossa alegria, ela é o avesso do passado.

Na atualidade (parece até texto para vestibular, mas não é), a moda virou uma ciência de propósito, gerando um impacto positivo na sociedade, pois possui um poder transformador. Como assim meia dúzia de panos podem fazer tudo isso?

Reparem só que o designer do século XXI tem a possibilidade de traduzir e espelhar o mundo a sua volta e fazer dele algo melhor. Não que anteriormente os designers não pudessem fazer isso, mas é que agora os carinhas do universo fashion resolveram realmente arregaçar as mangas e botar a mão na massa.

Essa aproximação da moda e do mundo real só começou de uns anos para cá. E isso gerou a primeira transformação bem bacana, já que poder contar histórias atreladas a transformações políticas, sociais, econômicas e ambientais, em um mundo tão conturbado quanto o que vivemos, é se aproximar, se envolver e não estar atônito ao que te permeia.

São novas narrativas desenhadas e traçadas a partir de contextos. Quantos “ELE NÂO” rodaram instagrams de pessoas como o Caio Braz, Dudu Bertolini e Ronaldo Fraga, indiscutivelmente ícones de moda e totalmente antenados ao mundo que os cerca e dispostos a mudar esse cenário.

Sem falar que o melhor da moda de hoje está na representatividade que ela possui. Antes ela era dona de um desserviço para a sociedade e a gente nem se dava conta disso. Parecia normal, mas não devia ser.

Opressora daqueles que não se encaixassem aos padrões e excludente da imensa massa que se via cá e a moda lá, ou seja, em lugares bem distintos, hoje ela abraça todo mundo. Pluralidade de corpos, mix de cores, nuances de gêneros e tamanhos diferenciados. É o negro, o gordo, a bicha e a traveca, cada com a sua essência e a sua beleza.

Em pleno século XXI, a moda trabalha com cada indivíduo, com cada beleza no seu máxime, com cada peculiaridade de cada ser. Ela não pode fazer você se expressar para ser aquilo que você não é, mas sim deve ajudar você ser a melhor versão de si, admirando e enaltecendo as diferenças.

Notem que se ver representado na moda era algo até então surreal. Poxa vida, lindas camisetas, maravilhosos casacos…. Mas é para mim? Eu posso usar? Onde? Quando? Como?

Era isso, gente. Era muito belo, do tipo pavê (é para ver e não para comer), no caso para ver e não usar.

E esse momento de ebulição que a gente vive com a desconstrução absoluta de padrões, rompendo barreiras entre o que é feio ou bonito e o certo ou errado, é fantástico. Parece que na moda até estamos vivendo aquela coisa de igreja de amar ao próximo com as suas diferenças.

O enredo não foi mais contado de uma só forma. O editorial já não é mais formado de padrões. E o casting abarca novos corpos e rostos. A beleza está no individual e propósito no diferente. A arte de fotografar baseia-se no estranho, no diferenciado e no inusitado. O defeito de outrora passa a compor um efeito.

Novos tempos, novas visões ou formas de agir. Os conceitos que faziam a moda há 10 anos tornaram-se tão obsoletos e ultrapassados quanto pegar uma revista na mão para se ler. Em tempos de era digital, assim como a internet conecta pessoas, a moda possui um propósito de transformação, inserção social, preocupação com o meio ambiente e ligação com novas tecnologias.

Diogo Rufino Machado

Ariano. Apaixonado por moda masculina e música eletrônica. Advogado. Jornalista de moda e blogueiro nas horas vagas.

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